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sábado, 10 de julho de 2010

De uma Doutora para uma apresentadora‏

achei muito boa a resposta.
Um forte abraço.


Antes de ler a carta da Dra. Mafalda Carvalho, Professora Doutora da
Universidade de Coimbra, endereçada à Maitê Proença, algumas observações
sobre as razões da missivista:

1) Maitê Proença disse no programa "Saia Justa" umas gracinhas sobre a
inteligência dos portugueses.

Fez comentários descabidos sobre a História de Portugal, sobre tradições portuguesas que ela desconhece, sobre o estuário do Rio Tejo, reduziu Sintra a uma vilazinha, criticou e ridicularizou o atendimento a seu PC pelo pessoal do hotel onde estava hospedada... e por aí afora.

2) O programa passa em Portugal e causou um grande mal estar lá na "terrinha".
Quando foi execrada pelos portugueses, no seu pedido de desculpas ainda disse
que o povo Português não tem senso de humor. Que foi "apenas" uma
brincadeirinha.
3) É o que dá quando a pessoa fala sem conhecimento de causa. Esta professora
portuguesa além de escrever muito bem, acabou com a Maitê Proença e de quebra, com os nossos representantes em Brasília, protagonistas de um vasto anedotário.

4) Leia até o fim, pois a postura da Professora é excelente e nós... temos
que ficar caladinhos...


5) É isso que dá, alguém despreparado emitir conceitos sobre assuntos que
não domina, com apoio dos alienados das redes de TV brasileira, que se
consideram o máximo em cultura ...

6) E temos que engolir calados e com humildade o desabafo dessa senhora
portuguesa, generalizando e nivelando todos os brasileiros. Mesmo porque ela
não diz nenhuma inverdade.

7) A que ponto chegamos! Não temos mais nem o direito de nos indignar. Pobre
Brasil! É o declínio moral de uma Nação.


CARTA-RESPOSTA DE UMA PROFESSORA E
DOUTORA PORTUGUESA PARA MAITÉ PROENÇA

Exma. Senhora:
Foi com indignação que vi a ‘peça cómica’ que fez em
Portugal e passou no programa Saia Justa em que participa. Não que me espante
que o tenha feito – está à altura da imagem que há muito tenho de si, pelo
que me tem sido dado ver pelos seus desempenhos – mas sim pelo facto da TV
Globo ter permitido que tal ignorância fosse para o ar.

Só para que possa, se conseguir, ficar um pouco mais esclarecida:
A ‘vilazinha’ de Sintra é património da Humanidade, classificada pela
UNESCO e unanimemente reconhecida como uma das mais belas e bem preservadas
cidades históricas do mundo;

Em Portugal, onde existem pessoas que olham para o mouse do seu
computador como se de uma capivara se tratasse, foi onde foi inventado o
serviço pré-pago de telefones móveis (os celulares) – não existia nenhum
no mundo que sequer se aproximasse e foi também o que inventou o sistema de
passagem nas portagens (pedagios, se preferir), sem ter que parar – quando
passar por alguma, sem ter que ficar na fila, lembre-se que deve isso aos
portugueses.

É um dos países do Mundo com maior taxa de penetração de
computadores e serviços de internet em ambiente doméstico. É o único país
do mundo onde TODAS as crianças que frequentam a escola têm acesso directo a
um computador (no próprio estabelecimento de ensino) – e em Portugal TODAS
as crianças vão à escola... Muitas delas até têm um computador próprio,
para seu uso exclusivo, oferecido ou parcialmente financiado pelo Ministério
da Educação – já ouviu falar do Magalhães? É natural que não... mas
saiba que é uma criação nossa, que está a ser adquirida por outros países.
Recomendo-o vivamente – é muito simples e adequado para quem tem poucos
conhecimentos de informática.

Somos tão inovadores em matéria de utilização de tecnologia
informática e web nas escolas, que o nosso caso foi recomendado por
especialistas americanos, como exemplo a seguir, a Barack Obama, que é só o
Presidente dos Estados Unidos – ao Sr. Lula da Silva tal não seria oportuno,
porque ele considera que a Escola não é determinante no sucesso das pessoas
(e, no Brasil, a julgar pelo próprio, tem toda a razão).

A internet à velocidade de 1 Mega, em Portugal há muito que é
considerada obsoleta – eu percebo que não entenda porquê, porque no Brasil
é hoje anunciada como o grande factor diferenciador a transmissão por cabo
que já não nos interessa. Já estamos noutra – estamos entre os países do
mundo com a rede de fibra óptica mais desenvolvida.E nesse contexto 1 Mega é
mesmo uma brincadeira.

O ditador a que se refere – o Salazar – governou, infelizmente,
‘mais de 20 anos’, mas para a próxima, para ser mais precisa, diga que
foram 48 (INFELIZMENTE, é mais do dobro de 20). Ainda assim, e apesar do muito
dano que nos causou a sua governação, nós, portugueses, conseguimos em 35
anos reduzir praticamente a ZERO a taxa de analfabetos e baixar para cifras
irrisórias o nível de mortalidade infantil e de mulheres no parto onde
estamos entre os melhores do mundo.

Criar uma rede viária que é das mais avançadas do mundo – em
Portugal, sem exceder os limites de velocidade e sem correr risco de vida,
fazemos 300 km em duas horas e meia (daria tanto jeito que no Brasil também
fosse assim!).

Melhorar muito o nível de vida das pessoas, promovendo salários e
condições de trabalho condignos. Temos ainda muito para fazer nesta matéria,
mas já não temos pessoas fechadas em elevadores, cuja função é apenas
carregar no botão do andar pretendido – cada um de nós sabe como fazê-lo e
aproveitamos as pessoas para trabalhos mais estimulantes e úteis; também já
não temos trabalhadores agrícolas em regime de escravatura – cada pessoa
aqui tem um salário, não trabalha a troco de um prato de comida.

Colocar-nos na vanguarda mundial das energias renováveis, menos
poluentes, mais preservadoras do planeta; enquanto uns continuam a escavar
petróleo, nós estamos a instalar o maior parque de energia eólica do mundo
(é a energia produzida a partir do vento).

Poderia também explicar-lhe quem foi Camões, Fernando Pessoa, etc.,
cujos túmulos viu no Mosteiro dos Jerónimos, mas eles merecem muito mais.

Ah!, já agora, deixe-me dizer-lhe também que num ponto estou muito
de acordo consigo: temos muito pouco sentido de humor. É verdade. Não
acharíamos graça nenhuma se tivéssemos deputados a receber mesada para
votarem num certo sentido, não nos divertiria muito se encontrassem dirigentes
políticos com dinheiro na cueca, não nos faria rir ter senadores a construir
palácios megalómanos à conta de sobre-facturação do Estado, não
encontramos piada quando os políticos favorecem familiares e usam o seu poder
em benefício próprio. Ficaríamos, pelo contrário, tão furiosos, que os
colocaríamos na cadeia. Veja só – quanta falta de humor. Mas, pelo
contrário, fazem-me rir as sessões plenárias do senado brasileiro. Aqui em
Portugal , e estou certa que em toda a Europa, tal daria um excelente programa
de humor.

Que estranho, não é?

Para terminar só uma sugestão: deixe o humor para quem no Brasil
o sabe fazer com competência (e há humoristas muito bons no Brasil). Como
alternativa, não sei o que lhe sugerir, porque ainda não a vi fazer nada que
verdadeiramente me indicasse talento...

Peço desculpa por não poder contribuir.

Mafalda Carvalho -

Professora Doutora da Universidade de Coimbra
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